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  • Foto do escritorVirgílio Varela

Por que precisamos do caos na nossa ordem?

Atualizado: 6 de mai. de 2023


Os meus maiores momentos de tensão estão relacionados com a ideia de que controlo as coisas: penso que se tiver um bom plano as coisas funcionarão bem. Tenho aprendido que Sim e também que Não.


A vida é descontrolada, inesperada, sábia no seu propósito maior e visão de longo prazo. Ela é parceira constante do caos e da mudança.


"Quando discuto com a realidade eu perco, mas só 100% das vezes" Byron Katie

Tentar ter tudo sob controle é esquecer que na raiz do visível, está o invisível e o emergente.


E tal como um marinheiro desatento, que quando lidera o seu navio só foca na ponta do icebergue, esquecendo o lado imenso que está submerso, também eu estarei a caminhar para a frustração e o desastre se só focar nos meus planos e não considerar como funcionam o fluxo da vida e as relações de interdependência e emergência.


“O mapa não é o território” Alfred Korzybski

O caos dá medo porque ativa a nossa amígdala - responsável pelas nossas reações emocionais - e os sinais de perigo são disparados para todo o nosso corpo.


Quando vivencio o caos fico tenso, paralisado, visualizo-me num colete invisível que eu próprio criei com a minha imaginação. É dessa sensação de dor que tenho medo. É por causa dela que crio histórias em que a dor é uma emoção negativa.


Em algum momento na minha infância, tomei a decisão inconsciente sobre esta emoção. Criei uma história e acreditei nela. Como uma estratégia para não sentir o desconforto da dor.


Mas, por mais que tentemos, é quase impossível não sentir. Mesmo quando temos algum sucesso, não bloqueamos apenas a dor, bloqueamos todas as outras emoções que nos permitem relacionar.


“Quando bloqueamos a dor, bloqueamos também o Amor. O outro lado da dor é o Amor” Joanna Macy

Percebo que sentir vivo é um gesto de aceitação do fluxo da vida. É um gesto de humildade, vulnerabilidade e de confiança. Não é falta de responsabilidade, não é esquecer o meu poder de colaborar.


É antes, pertencer, porque não sentimo-nos vivos sozinhos, precisamos da seiva relacional do outro, nem estamos sós neste planeta. Sentir vivo é fazer parte de um eterno renovar e regenerar que não segue uma pauta mas cria uma beleza extraordinária na sua liberdade.


Nenhum pássaro canta com uma pauta, os silfos não planeiam desenhar, eles são o desenho, assim como o pássaro é o próprio canto.


Acredito que ao tornarmo-nos vida, ao darmos as boas vindas ao caos para dentro da nossa ordem, percebemos que não fazemos nada sozinhos, que a parceria é constante, mesmo nos momentos de término, algo novo emerge e alimenta o ciclo eterno da vida.


Ao integrarmos as partes, tornamo-nos um todo e vemos a nossa relação com o todo: somos um fractal do universo e parceiros do que quer nascer.


Muitos povos originários sabem destes princípios e por isso criam cerimónias de iniciação, rituais de diálogo, onde incluem o caos, a criatividade, os elementos da natureza como parte da sua família vida.


O caos é uma provocação à racionalidade e à linearidade. É a criança que quebra o protocolo e cria novas configurações para a vida acontecer.

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